12 setembro 2013

O Encantador: o livro que eu não li; senti


Confio nas promessas arrebatadoras do verso
que ainda respira, que ainda gira, meu rosto está
molhado de lágrimas, meu coração explodindo
de felicidade, e sei que essa felicidade é a melhor
coisa que existe na terra.

Vladimir Nabokov, “Fumaça Entorpecente”
(In O Encantador, de Lila Azam Zanganeh)
 
Escrevi algo a respeito do livro que acabei de ler. O Encantador é um livro que me identifiquei muito, uma vez que aprecio os detalhes das coisas, em especial do cotidiano. Sinceramente, eu não tenho muito o que falar, mas é pelo justo motivo de que tenho, sim, o que sentir. E senti. Portanto, sou até suspeito.

O livro, naquilo que a autora espremeu e sensivelmente retirou das palavras e da alma de Nabokov, e discorreu, é um sentir lendo. Um lendo, sentindo. Um sentir. Uma leitura que em cada linha, em cada página (aqui posso estar sendo repetitivo), traduz as “partículas” de felicidade que Nabokov tão bem conseguiu extrair do universo em que pertencemos e traduziu no melhor dos sentimentos: a felicidade.

Sim, mas o que é felicidade? Quer saber mesmo? Para mim, felicidade é tudo. É o agora. É cada momento. É o bater de asas de uma linda e dócil borboleta. É o não bater de asas também. É o pouso e o voo dela. São a mistura das cores das lindas asas de borboletas silvestres, cores que você não consegue pintar sem dispor de um grande tempo e habilidade.

Felicidade também é o apito do trem ao longe, o vento que refresca seu rosto no forte calor, a gota d'água que cai da chuva e te molha sem pedir. É o calor do sol que ilumina seu dia de domingo, seu sábado perfeito, seu cotidiano cheio de gente e de coisas. É também o chorar e o se irritar.

A felicidade em Vladimir Nabokov
é um modo singular de ver, maravilhar-se
e entender, ou, e outras palavras, de enredar
as partículas de lucidez piscando ao nosso redor”.

(O Encantador, pag 20)

Felicidade é o bater de cascos dos cavalos no campo. A poeira que levanta ao passar um automóvel. A brisa que faz com que seus cabelos batam no seu rosto, e cubram seus olhos e, delicadamente, com uma das mãos você tenha que charmosamente retirá-los, para poder enxergar a vida que há em tudo que neste mundo existe. Sim. A vida de uma planta, de uma flor que colore os jardins das residências, das ruas, dos calçadões. A vida que nas relações, nas paisagens, na união dos elementos terra, água, ar e fogo.

Felicidade é conversar, dialogar, ir ao cinema, sair e rir com seus amigos. Comer pipoca. Também é discutir, bem como entender as diferenças. Saber que você não é o único no mundo e que este não gira ao seu redor. É saber que sempre, sempre alguém te enxerga. Sempre alguém te olha. Sempre tem algum pensando em você. Está pensando em você, agora e você em alguém também.

Felicidade é saborear os melhores pratos e aquele bolinho que sua avó ou sua mãe faziam e você comia com açúcar, e voltava correndo brincar. É sentir o gosto. O cheiro. Provar o novo. Arriscar o novo. Passear pela culinária das regiões do país, mesmo num único lugar. Viajar pelo mundo ou mesmo perto. Aproveitar a viagem não somente quando chegar ao lugar pretendido, mas aproveitar desde o início, todo o trajeto. Viajar sem se mexer.
Porque cada imagem perdida
é uma ocasião desperdiçada
para se encontrar a felicidade”.

(O Encantador, pag 20)

Felicidade é aprender e saber que se aprende com todo mundo e que também se ensina, em todos os momentos. Aprende sim. Seu colega de trabalho ou de aula te ensinam. É saber que a vida é um presente de Deus e que Ele está presente em cada um de nós, e por isso podemos dizer que estamos entusiasmados. Sim, entusiasmado é quando a gente está cheio de Deus. Pleno de Deus.

Felicidade é agora enquanto você lê este post. É olhar para você e sua vida. Olhar para seu colega de trabalho, amigo, amiga, familiar, quem quer que seja que esteja passado em sua frente. É desfrutar do agora. É o agora.

Felicidade é ter fé. Ter paciência. Exercitar a paciência. Ter e buscar a calma. Esperar. Escutar. Escutar as vozes que não falam. Escutar sem ouvir. Escutar os sons que não são comuns ao cotidiano, mas também os comuns. Escutar no silêncio. Escutar o silêncio. Ler um olhar. Escutar pelo olhar. Esperar. Fé. Muita fé.

Eu ficaria falando ou escrevendo sobre isso por horas. Certamente você percebe que acima coloquei algo sobre algumas situações, mas você pode fazer bem diferente. Pode pensar outras maneiras de enxergar a felicidade. Nabokov caçava borboletas. E eu imagino o brilho dos seus olhos. Ontem eu cacei também, não como ele, mas arrisquei perseguir algumas e achei brancas e coloridas e até o doce e romântico ensaio de um “namoro” entre dois desses seres tão pequenos, mas tão lindos. Eu não prestava atenção às borboletas, confesso. Mas se um ser tão delicado e pequeno pode te fazer tão feliz, e provocar teu riso, imagino muito mais que a vida oferece. Acho engraçado... e fico rindo comigo. Gostei de caçar borboletas. Vamos caçá-las?

Para mim, o livro é isso. Isso! E isso é felicidade. E eu não li o livro. Eu senti.

 


2 comentários:

  1. Muito bom quando a gente sente um livro!!!
    Felicidade é tudo aquilo que nos faz bem!
    Felicidade é ser vc msm!!!

    Bjooooos

    muitospedacinhosdemim.blogspot.com.br

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  2. Definiu muito bem: ser vc mesmo! Obg sempre Fernanda! bjo

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