08 setembro 2013

Subjetividade. Leitura. O primeiro passo. A primeira mão.

Um passo. Apenas um passo. Um. O pensar em um passo. Você consegue quantificar, se isso é possível, o tamanho do vácuo que há entre o pensar e o agir? (ato de pensar e o ato de agir? --olha o que eu fui capaz de escrever. Nossa! Pra servir de exemplo, vou deixar. Credo!) Você consegue imaginar o intervalo que há entre essas duas situações? "O silêncio eterno desses infinitos me apavora", disse Pascal. Justamente assim. Trazendo esse viés ou empurrando ele em direção à leitura, como achar melhor, o ato de pensar em ler já é o primeiro passo, ou a primeira mão, digamos assim, a buscar o livro na estante, na cabeceira da cama, na livraria, ou até levar o mouse até o clique do livro que surge na tela, ou que visitou um mecanismo de busca de um site, ou algo que o valha.
 
Sigmund Freud já dizia: "O pensamento é o ensaio da ação". É bem por aí. Pensar é ensaiar. É concentrar-se naquilo que deseja que seja realizado. Sonhar também é. E como?! Eu que o diga. Mas o que faz uma pessoa buscar a leitura? Diversas questões. Pode vir de berço, ou quero dizer, de uma família que lê. Pode vir de um estranho que apresenta o mundo do livro àquele que não leu além de livros obrigatórios na escola. Pode vir de um professor que conseguiu passar, ou até mesmo de um amigo, alguém, que conseguiu passar a magia e a vida que há no mundo da leitura. Isso é algo valioso.
 
Faço a seguinte reflexão, que de certa maneira não deixa de ser uma analogia. Há uma grande diferença entre você fazer uma receita de algum prato que viu num livro de receitas, e um Chef de cozinha fazê-la, ou criá-la. Se fosse fácil assim, apenas ler a receita e colocar na panela e servir, os restaurantes perderiam a qualidade, uma vez que os Chefs estariam desprestigiados e essa profissão não existiria. Simplesmente há magia no criar a receita. Não é bem assim. Na verdade, todos nós temos aptidões para alguma coisa ou algumas coisas. É da subjetividade de cada um. Não é que você não possa aprender, não é isso, mas é que cada um é cada um. E é essa diferença que faz a diferença.
 
O ato de ler é simples. Basta pegar um livro e ler. Mas o mais difícil é entender que o ato de quem ama ler é bem diferente de apenas ler. É algo bem subjetivo, que vem de dentro, lá dos confins de cada personalidade, esta que se encontra com outras que tem a mesma aptidão e sensibilidade e se unem na leitura universal. Assim, ler não é algo simples se você não entende os motivos disso. Como não é simples criar e nem cozinhar se você não tem aptidão para tal. Fosse fácil, os Chefs estariam todos procurando outros empregos.
 
O ler é uma construção de algo que se identifica com você bem inconscientemente. Há uns mais preparados do que os outros. No mundo atual, tecnologicamente atual, é bem complicado, diria bem difícil até trazer as pessoas para o ler. As notícias instantâneas dos diversos sites, no webjornalismo, exigem do internauta que ele clique para se informar, enquanto uma enxurrada de banners de publicidade subliminar invadem a mente, principalmente, juvenil. Mas estou muito impressionado com tudo isso, uma vez que voltei a ler, graças a Deus, e tenho encontrado muita gente que tem, além de todos seus afazeres e compromissos de sua vida, o tempo disponível, mesmo que por poucos minutos, para ler e dividir isso. Portanto, estou aliviado, pois a humanidade tem salvação. Ufa!
 
Mencionei acima sobre subjetividade. Esta é de cada um, e como disse: cada um é cada um. Isso é divino e maravilhoso. As diferenças são, para mim, o máximo. Ah, lembrei de algo que escrevi em outros tempos de minha vã filosofia de gaveta, sei lá o que... haha: "Para mim, Deus se materializa no vácuo que existe entre uma diferença e outra, seja entre pessoas, seja entre pessoas e animais, seja em qualquer vida na terra". Confesso que isso me cativa muito.
 
Portanto, seguindo nessa linha e concluindo este post, ler é uma construção. É um processo que envolve muita coisa, e que somente poderá ser identificado, arrisco-me, quando imagino essa pequenina crônica, abaixo:
 
"Parou. Um colorido lhe chamava a atenção. Voltou. Olhou. Pensou. Sentiu o peito ficar diferente. Sentiu a respiração mudar. Percebeu que o mundo, seu mundo parou. Que as pessoas que caminhavam ao seu lado continuaram. Percebeu que seu mundo parou, mas mal sabia que seu mundo havia era começado uma saga divina. Entrou. Recebeu um bom dia gentil e suave, bem coisa de livraria. O cheiro do lugar era diferente. O silêncio era de um infinito céu de estrelas. Respondeu ao bom dia dizendo que iria dar uma olhada. Passeou por entre  o colorido das prateleiras. Viu algumas pessoas sentadas em poltronas confortáveis. Percebeu que liam, curvadas sobre os livros e uma pilha de livros ao redor, imaginou que era para escolher um título. Enquanto isso o mundo parou. Adiou o compromisso à frente, entrando na livraria. E era uma livraria linda. Com teto alto, rebuscada. Uma mistura do moderno com o clássico. E tudo mudou. Lembrou da infância, das leituras no colégio, das leituras obrigatórias para o vestibular, das resenhas a contra gosto que teve que fazer, mas entendeu que agora era diferente. Entendeu que estava livre para escolher, livre para ler. Livre para mudar seu mundo, buscar a leitura e ler. Simplesmente ler. Então, começou a correr com os olhos naquele colorido cheiroso. Sentindo-se dono daquele lugar, passeou com os dedos nas trilogias, nos best-sellers, no amontoado organizado de livros divididos por temas, autores. (Re)descobriu o mundo. Sorria por dentro em meio aos susto do (de) novo. Assustou-se com a saída da loucura da correria da rua, onde ninguém tem tempo pra nada e sentiu que havia parado num rio de páginas, títulos e capas que o inundavam de magia, história, estórias e o respeitavam e o queriam ali, daquele jeito: pensativo, vidrado, olhando e escolhendo (como se fosse fácil entrar numa livraria e escolher um livro, hehehe). Mas ele foi. Passeou. Andou. Voltou. Perguntou. Olhou os lançamentos. Viu os livros que nunca saíram da lista de mais vendidos. De soslaio deu uma olhada aos que estavam sentados lendo, para ver o que liam. E parou em frente a uma prateleira alta, mas toda a seu alcance. E sentiu-se dono dali. Sentiu que algo lhe fez parar naquele lugar. Com as mãos nos bolsos, olhou de cima para baixo e debaixo para cima. Ficou por alguns intermináveis minutos. Não foram muitos, mas o suficiente para ser uma quase eternidade. E quando menos esperava, seu braço direito dirigiu-se à prateleira e escolheu um livro. Leu a sinopse. Escolheu outro livro. Leu a sinopse. Gostou dos dois. E agora? Parou. Pensou. Amou os dois livros. Deu mais uma volta. Voltou. Os livros continuavam consigo. Em dúvida, sentou. Sentiu o peso dos livros, a textura sedutora das páginas de papel couché e levantou-se. Havia decidido qual livro levar. Levou os dois. Pediu uns marcadores de páginas que inclusive tinham publicidade de outros lançamentos. Pagou. Saiu. À porta, agradeceu a gentileza do vendedor de livros. Olhou para trás e percebeu que iria sair daquele lugar adorável e confortante e arriscar-se por entre os transeuntes e os carros do louco cotidiano citadino. E saiu. Mas saiu diferente. Percebia a diferença. De certa maneira entendia. Sabia que mudara. E não via a hora de chegar em casa e ler seus livros. E foi isso que fez. Saiu correndo, sem correr. Não via mais a correria dos outros. Seu foco era ler. E leu. E estava ansioso para voltar para a livraria. Que coisa, não?! Sentiu. Pensou. Leu. E voltou".
 
Até!
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário