03 julho 2013

Futebol de Latinha


Aguardavam o ônibus. A rua movimentada, logo cedo pela manhã. Por volta de seis e meia. Cedinho, mas o sol já nascendo com seu brilho e seu calor de mais de 35ºC, quando chegasse ao meio-dia. Naquela hora, beirava a temperatura os seus 25ºC. Alguns faziam seu desjejum na rua, em pequenas carrocinhas, onde se vendia de tudo: salgados, doces, café, pamonha, tapioca, bolo de milho, dentre tantas outras coisas. O café era ali mesmo para aqueles que esperavam o ônibus. Alguns mais apressados, praticamente atiravam-se na frente dos tele-motos que passavam, com suas motocicletas laranjas e seus pilotos cheios de roupas para se proteger do sol que logo se ergueria.

A rua era asfaltada. A parada de ônibus era perto de um cruzamento. Muitos automóveis e motocicletas, além de vans, passavam, cruzavam-se na rua que ia e que vinha. Uma quase bagunça. Quase porque ainda era cedo. Loguinho a bagunça começaria. Motociclistas sem capacete. Motoristas sem cinto de segurança. Bicicletas em todos os sentidos. ônibus e vans dividindo espaços nas paradas de ônibus e na rua que ia e vinha. E aguardavam o ônibus.

Não havia controle na rua, tinham que confiar na boa fé das pessoas que passavam “voando” de moto ou de carro. Mas todos sorriam. Alguns carrancudos, mas a maioria sorria, enquanto tomavam seu café-com-leite e comiam seu salgado ou doce. Outros entravam correndo e comendo nas vans. Subiam nas motos comendo. Pareciam desesperados. A vida começava cedinho e ligeirinho. Um perigo. Por vezes, quase uma moto se chocava com outra, ou com os carros. E eles ali, aguardando o ônibus.

Atrás da parada de ônibus – ou do ponto de ônibus, como queira – uma latinha vazia de refrigerante, meio amassada, ia de um lado para o outro. Ás vezes, ziguezagueava. Outras vezes, ia mais longe. Aquele barulhinho de alumínio em meio a risadas, algumas gargalhadas, barulhos dos motores dos veículos que passavam, não cessavam. Dois garotos jogavam futebol. “Futebol de latinha” enquanto aguardavam o ônibus chegar e seus pais os chamarem para partirem. No país a que chamam país do futebol, dois garotos brincavam de jogar. De certa maneira, jogavam. O simbolismo e o significado que isso tem para o brasileiro é bastante significativo. Assim como é transformar uma latinha amassada de refrigerante numa bola. A capacidade de a criança simbolizar um jogo de futebol com uma latinha amassada de refrigerante é primordial para seu desenvolvimento. É o seu desenvolvimento. Num país onde os campos de várzea – campinhos de futebol – pouco existem, ainda há – e há muitos – que “praticam” seu sonho, ou sua brincadeira preferida, mesmo de manhã bem cedinho, atrás de uma parada de ônibus, enquanto aguardam para partirem.

E aguardavam. Continuaram aguardando até o ônibus chegar. Mas aguardavam jogando. Brincando.
Simbolizando. Sonhando.

Aguardavam.

;) Cleuber Roggia
PS: sempre com o perdão de erros de e do português.

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