30 julho 2013

Crônica: Um manual de como não se deve jogar vôlei

Hoje (re)descobri que voleibol não é, nunca foi e nem nunca será um esporte que eu jogue feito pra mim. Uma porque não sou alto (também não sou tão baixinho assim, viu). Outra porque é um esporte que exige conhecimento, técnica, gosto e prática. Dos quatro citados, tenho pouco de cada um. Também descobri que quem jogou comigo, também seguirá o mesmo destino.

Num dia atípico, iríamos, primeiramente, jogar futebol no horário da educação física. Pouca gente hoje. A maioria em operações. Pedi que pegassem a bola de vôlei e fomos até o ginásio. Estava ocupado. Descemos ao campo para, portanto, voltar à primeira ideia: o velho futebol. Faltava a bola. Faltou a bola. Decidi, portanto, até para não nos estendermos demais, que iríamos jogar voleibol. Alguns nunca haviam jogado. Fico pensando que jovens soldados, que passaram pelo ensino fundamental, não haviam jogado vôlei. Será que não praticavam, ou nunca se interessaram, ou, quem sabe, nunca tiveram uma aula sequer com algum educador físico? Eu e meus questionamentos. Sempre eles. Bom de tudo é que, despretensiosamente, foi a melhor escolha.

Bom, dividimos os times. Um pior que o outro. Isso mesmo. Se alguém ali tinha um sonho de ser um dia um atleta de vôlei, obviamente percebeu que hoje era o início e o fim desse sonho. A menos que parasse tudo na vida e treinasse uns novecentos anos. Quais eram as regras? As do vôlei, com alguma flexibilidade do tipo: valia qualquer toque na bola (condução e bandeja foram as que mais apareceram nas estatísticas); não havia marcação na quadra de areia, portanto, colocávamos a bola pra jogar e, "no olho" a gente sabia se a bola havia ido para fora ou não (também não era motivo de tanta preocupação, uma vez que os times somavam muitos pontos, para o outro time - hahaha); a rede estava na altura média, desgastada pelo tempo; invasão de quadra e toques na rede era o que mais acontecia, portanto, se fosse cobrar isso, o jogo não andaria. E com essas regras, dentre outras, o jogo seguia. Feiiiiio... mas seguia.

Nota: ainda bem que ninguém estava assistindo, pois nos poupou a frustração de saírem antes do jogo acabar. Se bem que, de certa maneira, o jogo nunca começou. #pelamor!!!

E o tal do jogo continuava. Havia uns que se defendiam da bola. Ah, a média de altura era bem baixa. Números muito mais para qualquer esporte, menos vôlei e basquete. Continuando. Outros chegavam a ponto de tocar com as duas mãos na bola, não ao mesmo tempo. Tinha gente que conseguia. #meldels!!! Muito divertido. Quem nunca havia jogado, ria alto e com vontade. Nós todos ríamos. Cada saque, cada vez que a bola ia ao alto (imagino que ela tentava fugir de nós, dada a ruindade), era uma expectativa para ver quem iria tocá-la(maltratá-la... pobre bola) e o que seria logo após isso. Em meio a tudo isso, muitas, muitas risadas. Com vontade. Com prazer. às vezes eu parava para observar. Eu era o mais velho. Tinha o dobro da idade de cada um dos demais, mas sei que jamais passou pela cabeça deles que eu estava aprendendo ali, como a gente aprende todos os dias. E, sinceramente, jamais imaginei que poderíamos nos divertir tanto em pouco mais de trinta minutos de jogo. Todos riram. Ninguém jogava nada. Todos se divertiram.

Havia um garoto que estava se divertindo tanto que quando a bola vinha em sua direção (ele nunca havia jogado), ele saltava A la Rogério Ceni (fazia uma "ponte", como um goleiro faz no futebol). E obviamente que ele conduzia (de condução), com maestria, é bom dizer, a bola. Qualquer árbitro do esporte sairia de seu posto e abandonaria a quadra. Qualquer jogador profissional de vôlei que assistisse nosso jogo nos denunciaria a alguma autoridade, por atentado violento a esporte.

O jogo foi um verdadeiro manual de "como não se deve jogar voleibol". Regras que saíram pelos ares, empurradas pelas nossas gargalhadas. Linhas imaginárias que nossos olhos criaram na quadra. Toques, manchetes, levantadas, cortadas jamais vistas em qualquer edição de Liga Mundial de Vôlei (e jamais serão vistas). Gritos, saltos, pés, bordões e posições de futebol inseridas na quadra. "Toca na ponta esquerda pra mim", gritou um. "Chuta", disse o outro. "Joga na ponta", falou mais um.

Ao final do jogo, na verdade uma continuação, todos rimos. Tínhamos certeza que militar, naquele momento, era nossa profissão e que voleibol jamais seria (felizmente, diriam os inventores do esporte). E também saímos agradecidos, uma vez que se fôssemos jogadores profissionais de vôlei, certamente estaríamos desempregados e desistindo do sonho. A maioria dos que jogavam, moram a mais de 300 km, prestam o serviço militar obrigatório. Hoje ele riram muito.

Mas é tão bom ser por um momento algo que se sonha, mesmo que numa brincadeira. A certeza disso é a diversão durante, o resultado depois e os comentários e as lembranças que seguem e que ficam pra sempre. Não tenho dúvida nenhuma disso.

Agora, estamos preparados para o próximo terror, digo, jogo. Certos de que não jogaremos nada, mas também certos de que iremos rir, e rir muito.

Pouco mais de meia hora. Dois times, um pior que o outro. E o aprendizado, maior ainda, que é o de sempre: nas pequenas coisas, nos detalhes de cada momento é que está, sim, a felicidade. É simples ser feliz. Ser Feliz é simples. Basta aproveitar cada segundo da vida. E hoje, num jogo "horrível" de vôlei, rimos, fomos felizes. Somos felizes.

;) Cleuber Roggia - #leituradeintervalo

(Amanhã escreverei sobre o que te leva a escolher um livro pra ler)

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