Uma das coisas que me chamaram a atenção, foi a história de um vereador de Belo Horizonte que perdeu a visão na adolescência, salvo engano, e que toma uma van para o trabalho, e guia o motorista dizendo, com propriedade e segurança, pontos de referência mentalizados por ele, tipo: vire à esquerda depois de tal prédio; após essa lombada, pare próximo ao banco "x"; ou, deixe-me na praça, logo depois de virar à direita. Precisamente um mapa da capital mineira, desenhado na mente do vereador, um homem de humor significativo e contagiante.
Um outro caso, é de um senhor - só me perdoem que eu não lembro se ele fez, ou não, cirurgia corretiva - que usou óculos por muitos anos, deixou de usá-los, mas voltou a usá-los, pois sentia-se inseguro sem os aros e sem as lentes, que com o passar do tempo, parecem dar uma ideia de limite da visão, digamos assim.
Essa segunda história me identifiquei, pois uso óculos desde os 18 anos e, realmente, tenho dificuldade de ficar sem eles; para ler, impossível não tê-los comigo. E eu também não tinha me dado conta, até assistir ao Janelas da Alma, que o "campo", vamos chamar assim, que é formado ao redor dos olhos com o conjunto lente e seu contorno, faz falta. É como se, de repente, ao retirar os óculos, de certa maneira, retira-se certas linhas de referência da visão. Naturalmente compreensível, pois não tenho dúvidas que ficar sem as lentes que proporcionam a retornar à melhor visão possível, exige uma (re)adaptação.
Enfim, Janelas da Alma - e aqui entro num outro viés - trabalha, de certa forma, o literal e, claro, o subjetivo, no entanto, o nome do documentário em tela, é muito utilizado por várias linhas, citando os olhos como o lugar onde se pode ver, de fora pra dentro, aquilo que se passa no campo dos sentimentos de alguém, de nós mesmos.
Particularmente, eu adoro a expressão "janelas da alma", pois me dá a ideia de pureza, limpidez, propriedade, enfim, de certa maneira, uma ideia valioza e rica do que somos.
Há uma frase do psicanalista francês Jacques Lacan, que é assim: sou onde não penso. Tal frase ne guiou, e me guia, muito no fazer psi clinicamente puro. Uma clínica psicológica à flor da pele, límpida. E essa frase me ocorreu porque vem ao encontro do olhar, das "janelas", uma vez que se sou onde não penso, ou seja, sou aquilo que sinto, também não sou aquilo que vejo, mas aquilo que transmito pelo meu olhar, ou que permito o outro ver de mim. E por aí coloque sua abstração a trabalhar... e me conte.
Janelas da Alma me fez resgatar muitas coisas daquilo que penso e daquilo que adoro falar. Escreveria ou falaria horas sobre isso. Mas paro por aqui, e espero ter sido entendido naquilo que escrevi. Lembrando que procuro, ao máximo, escrever o que sinto, seja sobre os livros que leio, seja por qualquer outra ideia que o valha, utilizando um "chavão" clássico do personagem de O Apanhador no Campo de Centeio.
Até mais! Cuide de suas janelas. 😉
Até mais! Cuide de suas janelas. 😉
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