11 outubro 2013

Querido Blog. Querida Anne Frank

#leituradeintervalo @cleuberroggia
 
 
Querida Anne Frank,

Tenho certeza que tudo na vida tem um propósito. As vidas que vem. As vidas que vão. Tenho fé em Deus. Tenho fé no mundo. Tenho fé nos homens.. nem todos, claro, até porque eu estaria sendo completamente hipócrita e demagogo. E aí estão duas coisas que admirei e admiro em você, Anne Frank. Você sempre foi autêntica. Do início ao fim do seu diário.

Uma garota de 13 anos, com propriedade em suas opiniões, com maturidade além da conta para sua idade, uma leitora de bons e muitos livros. Uma menina, certamente, a frente de seu tempo. Sim, você me encantou. Fascinou-me pelo seu espírito de luta, inclusive nos piores momentos do tenso e melancólico Anexo. Você e sua família e as demais pessos reunidas e escondidas das garras do insano Hitler e seus absurdamente seguidores, gente da pior espécie, mas pessoas preservando aquilo que lhes deram: a vida. A propósito, tudo tem propósito e não posso ser incoerente. Hitler e sua existência certamente tiveram seu propósito, infelizmente da forma que foi.

Querida Anne, a cada página que eu lia, era como se eu estivesse com você nesse confinamento cruel. A cada página, senhorita, eu aprendia com você. E continuarei aprendendo e, sem dúvida alguma, seus ensinamentos passarei adiante, e adiante, e adiante. Seu humor, mesmo numa fase complicada da vida que é a adolescência, onde eu tenho para mim que o adolescente flutua entre o chão e o teto, manteve-se dentro que posso chamar de "controle". Todas as necessidades e privações, todas a intempéries do confinamento, tudo pode ser, de alguma forma, sentido por quem lê. É indescritível.
 
Eu diria que a tensão que senti foi mínima perto do que vocês todos sentiram. Não há como não ficar tocado por isso. E os dias passavam. E as horas corriam. Demoravam. Paravam. E você, Anne, ali, suportando com toda sua garra e fé. Ficamos íntimos eu, você e Kitty, a meu ver. Chegar em casa e ler seu diário. Esperar a hora do intervalo para ler seu diário. Carregá-lo no meu trabalho. Levá-lo em minha mochila. Coloca-lo em cima de minha mesa de trabalho. Ler no carro. Na cama. Na poltrona da sala. Na hora de dormir. Tudo com ele. Seu diário colou em mim, querida Anne. Kitty, para mim, é quase uma pessoa. Se isso existe. A relação entre nós até ficou quase esquizofrênica. Quase, eu disse. Na verdade, acompanhei sua luta, seus dias.
 
Querida Anne, foi um enorme prazer ler seu diário e internalizá-lo. Sim, fiquei tenso, já contei sobre isso, tive medo que achassem vocês cada vez que se aproximavam as últimas páginas. Mas como disse, tudo tem um propósito. Vocês todos partirem, com exceção de seu pai, teve propósito. Se o Anexo não existisse, talvez você não estaria viva para escrever. Se os anos em que ficaram no Anexo não existissem, seu lindo e adorável diário não existira. Se as pessoas que cuidaram de vocês e os protegeram não existissem, sua vida não existiria. Se, talvez, você não tivesse partido tão cedo, certamente não estaria tão viva como hoje está. Sua memória será preservada por todos, mas você iniciou esse trabalho de preservação. E profetizou: "Quero continuar vivendo depois da morte". E continua. E continuará por seus méritos, mas, sobretudo, por seu propósito. Sim, você nasceu, viveu, escreveu, partiu cedo, tudo por um propósito: seu legado.
 
Antes de mais algumas coisas que quero lhe escrever, mas não vou me estender muito, queria dizer que, com exceção de seu pai todos morreram, e seu pai, esse foi um dos propósitos da vida dele, imagino eu, foi ficar vivo para levar ao mundo aquilo que você nos deixou. E ele conseguiu. Viveu bastante para isso. Viveu para ele. Viveu para você. Viveu por você. Viveu por vocês. Viveu para você continuar vivendo. E vivendo. E vivendo.
 
Por fim, querida Anne, queria dizer que no início do ano, aqui na minha amada Santa Maria-RS, mais de 240 jovens, um pouquinho mais velhos que você, partiram para outra vida, após um incêndio numa boate. Uma tragédia que comoveu o mundo. Naquele dia, quando recebi a notícia pela manhã, assim que acordei, a primeira coisa que senti foi impotência. Senti-me impotente. Senti-me culpado porque não ajudei a salvar alguém. Senti-me impotente porque não consegui estar lá na boate para ajudar. Mas sei que Deus sempre está no comando e tem seus propósitos. Esses jovens, amados, saudosos, partiram com algum propósito. E tenho pra mim, querida Anne, que eles partiram para que outros vivam. Partiram para salvar outras vidas espalhadas por esse mundo, que tem muito que melhorar. Assim, talentosa Anne, também me sentia a cada página. Sentia-me impotente por não estar aí para cuidar de vocês, mas, certamente, não deveria. Mas me senti impotente. Da mesma forma que me senti impotente quando descobri que vocês foram descobertos, presos e desrespeitados como pessoas. Senti-me traído, atado, e triste porque alguém delatou vocês. E até hoje isso existe.
 
Mas ao final de tudo, estou extremamente feliz pela leitura de seu diário e pela vida que transmitiu a todos nós. Estou feliz porque você vive. Estou feliz porque cumpriu seu propósito, talvez sem saber que tinha um.
 
Seu diário está em mim, querida Anne Frank. Um beijo carinhoso, muito obrigado e fique com Deus no Anexo Dele.

Ah, quero visitar seu Anexo. Um grande amigo visitou e eu fiquei feliz por ele. Agora, eu quero ir aí e quero sentir. Um beijo!

 

PS.: mais sobre Anne Frank, aqui.
Imagens: http://www.annefrankguide.net

8 comentários:

  1. Querido Cleuber, este seu texto foi emocionante a cada palavra! Me trouxe lágrimas aos olhos, pois você falou com muita propriedade e veemência de seus sentimentos em relação a este livro! Lindo texto! As palavras já são seu brinquedo, seu lego, e você as monta e coloca onde quer e elas lhe obedecem. Sou fã da sua escrita Dr!

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    1. Sempre gentil, querida Biula... Eu agradeço sempre suas palavras. Busco sempre colocar na tela ou no papel, aquilo que sinto... tenha certeza q suas palavras motivam-me muito. E não sou para tanto assim pra vc ser minha fã... hehe... obg sempre ;)

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  2. oi cleuber...estou começando a viver agora o que vc viveu . ou seja, a terrível experiencia de ler a história de nossa querida Anne . Digo terrivel pq a sensação que dá é que quase vivemos aqueles tempos até hj , com maquiadas desculpas e justificativas de poderes e poderosos. Bem, estou no comecinho ainda, ela está nos primeiros dias de refúgio, sei que ainda n lí nada , mas n me contive e fui pesquisar mais sobre ela, sobre a segunda querra e acabei por ver varios filmes. Hj chorei com um deles ,o final é muito triste !!! Estou começando na carreira de atriz e tentando ganhar o papel principal dessa história, acho que porisso estou tão envolvida. Como é bom saber que eu posso dar vida a Anne novamente, só gostaria de poder mudar o rumo da historia :( mas essa mágica o teatro ainda não faz !!!! bjusssssss

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    1. querida Jacqueline, é um prazer imenso ler seu comentário, que é um depoimento, na verdade. Se entendi, vc está inciando na carreira de atriz e quer o papel de Anne Ffrank? Que joia... vou torcer por vc... eu amei o livro, assim como todos amaram... como dia uma grande amiga, o livro "dói"... obrigado pela sua visita, volte sempre... Anne Frank é amável e adorável... dê vida a ela, mais uma vez... me conte... volte... ela anda vive e muito viverá, só morre aquele q a gente esquece, Jacqueline... me conte mais sobre sua carreira.

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    2. oieee.....legal vc ter me respondido rss.....estou sim iniciando na carreira de atriz e esse pode ser meu primeiro grande papel na dramaturgia adulta , se eu ganhar , com certeza Anne Frank passará a ser MINHA DIVA rsss, aliás, ja é né ?? . Ja fiz teatro infantil e ja fui uma chiquitita rssss... ahhhh , tb ja fui o Pedrinho do sitio do picapau amarelo rsss...enfim , ja cortei o cabelo, ja fui ruiva , para o papel de Anne vou ter q pintar de preto ( sou loira) .
      Não foi facil convencer a familia dessa minha decisão, já que meu pai sonhava em ter uma filha trabalhando c ele no escritório de advocacia . Não tenho a mínima paciencia p ficar atras de uma mesa , dizem que advogados são como atores né ? afinal eles tem que convencer nas palavras rss. mas comigo não, não quero meio termo , nasci p atuar ( e escrever tb ) se vou ou não ter sucesso ou boa remuneração nessa profissão , já n sei, mas com certeza serei feliz.....e isso me basta !! Parabens pelo blog viu ??? ta lindooooo....bjusss :)
      OBS: se eu ganhar o papel te aviso, e até te convido p me ver ok ??? vamos ver se a minha Anne Frank corresponde a imagem que vc tem dela na mente rssss.

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    3. Fico feliz por sua decisão e escolha. Eu desejo que consiga o papel e que tenha sucesso na carreira que escolheu, que é linda. Paciência, humildade e persistência fazem uma grande atriz... tenho certeza q seu caminho é esse. Seja feliz. E me convide sim... estou torcendo aqui para vc conseguir o papel; Obg pela visita e volte, viu beijo

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  3. Texto muito emocionante, fiquei curioso em lê-lo quando ví que se tratava do diário de Anne Frank. Emocionante, nos traz a realidade de como as pessoas sofriam na época da segunda guerra mundial. Pessoas inocentes que se foram, morreram de forma bruta e desumana , mas Anne deixou sua marca de garra e perseverança, uma lição de vida para todos.

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    1. Anna Anna não somente deixou sua marca, como ainda vive, caro Drico. Obg pela visita! Volte sempre.

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