27 junho 2014

Psicose: a mãe é minha

A mãe é minha. Só minha. Não aceito intrusos. Minha mãe é minha, toda minha, uma extensão de mim. Isso é um pouco da psicopatologia de Norman, dono de um Motel numa estrada velha, em um determinado lugar. Esse poderia ser o discurso dele. Possessivo. De uma mãe possessiva também.

A mãe, enamorando−se com um terceiro na relação edípica falha e primitiva, não resolvida, não elaborada de mãe e filho, coloca entre o amor doentio de ambos, um terceiro, um outro. Esse outro a possui, certamente, enamora−se. Norman sente−se cortado, castrado, decepado da relação, excluído naturalmente, pois a vive literalmente, a questão é que os outros não sabem. Ninguém sabe. Cabe ressaltar que a relação edípica, o famoso complexo de édipo, é intenso, inicia por volta dos três anos e é concluído, após sua reedição, na adolescência. No caso de Norman e sua mãe, isso não aconteceu a ponto de ser cortado pela função paterna que ela não tinha resolvida, definida, internalizada, e obviamente não entendida, passada para o filho.

Bem, não vou ficar discorrendo tecnincamente a respeito, até porque cabe muita discussão. Também procuro ser o mais claro possível nessas questões, a fim de que os demais, leigos em psicologia e psicanálise, entendam de uma forma mais simples. Não por acasso iniciei escrevendo o pronome possessivo: minha. E complexo de édipo é tão complexo que o próprio nome diz. Enfim, vamos ao livro?

O que dizer do livro? Olha, do ponto de vista literário, Psicose é excepcional. Como o Leitura de Intervalo busca, pelas minhas letras, obviamente, escrever o que sente a respeito da leitura, permito−me a dizer que adorei.

Livros são maravilhosos. Claro que nem todos tem os mesmos gostos. De certa forma, eu não procuraria tal livro se não tivesse incentivado, mais uma vez, pelo Companhia de Papel. E assim foi. Recebi o livro, instalei no Kindle e me atraquei.

No primeiro dia, li setenta por cento de Psicose. Ou seja, quase concluí de tão bom. Há um suspense que, para mim, digamos, é leve e eficaz. Quero dizer que é muito agradável a leitura. Muito mesmo. Instigante e sedutor. Assim é o livro, assim é o psicopata Norman.


Aqui um parêntese: psicopatas são extremamente sedutores. Conseguem facilmente seduzir suas vítimas de uma forma que ficam tão enrredadas que não há, ou quase não há, saída. Na sociedade temos diversos tipos de psicopatia, inclusive uma muito comum: o sociopata. Este circula por aí com discursos brilhantes, muitas vezes não assassino, mas que levam seu dinheiro, por exemplo, de forma fácil. Muito fácil. Não vou aqui citar exemplos até para não fugir do tema. 


Então... no segundo dia de leitura, ansioso, praticamente acabei o livro. Cloncluí Psicose no terceiro dia, pois tenho uma coisa pra mim: tenho o prazer, e isso não é mania, de concluir o livro em minha humilde residência. É como se isso fosse algo justo com o livro. Eu acho assim, até porque ou você tem uma boa e resolvida relação com os livros, ou você não tem. Isso é leitura. O livro te escolhe e você escolhe o livro. É como clínica de orientação psicanalítica: inconscientes se identificando, defendendo−se, transferindo e contratransferindo (esses dois últimos, questões técnicas).

Voltando à história, e não faço spoiler, não curto, mesmo sendo um clássico de sessenta anos atrás, aproximadamente, Norman é um assassino frio, que se protege da perda da mãe, a qual matou, pois tanto a desejava. Tanto protegeu−se que matá−la foi um modo bem preciso de posse, ou seja: é minha, tanto minha que a engoli, está dentro de mim (viajei, né? ) Além de tudo, apropriouse da personalidade da mãe, pois não suportava viver longe dela e admitir que a tinha, digamos, perdido−a. Interessante aqui é esclarecer que nas psicoses, assumir múltiplas personalidades é algo natural.

Por fim, é uma excelente leitura. Se você está, quem sabem preocupado com o livro, fique tranquilo, pois a leitura não é pesada. É uma leitura fácil, com uma história envolvente, dinâmica e sem frescuras ou enrolações. Não há, na minha opinião, um senão na história, no enredo e em todo conjunto da obra que virou filme. Eu gostei muito mesmo. E recomendo a todos. Como é um clássico, está pela internet em epub, o que facilita a leitura no computador, no tablet ou no seu leitor de livros. Até mesmo no celular, que eu não recomendo por uma questão óbiva de que não faz bem ler numa tela minúscula.

Psicose foi a leitura dessa semana. Agora, volto ao meu (possessivo, kkkk) Dom Quixote, no Kindle, uma vez que estava complicado ler na edição que comprei. Ou seja: não gostei. E não tenha dúvida que tenho muitos livros na fila, nossa!

Se vai ler Psicose, uma ótima leitura!

Obs: seguem, no texto, alguns links para você se inteirar melhor de tudo do livro e fotos de alguns destaques sobre psicose de meu Vocabulário de Psicanálise.

Espero que tenham gostado do post. ;) Cleuber Roggia

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