É, talvez não
chegaríamos, nós colorados, no topo do mundo, se Fernandão não
tivesse acreditado no projeto de Fernando Carvalho, quando este foi
buscá-lo em Goiânia, para aceitar a proposta do Sport Club
Internacional.
Elegante. Sim,
Fernandão sempre foi elegante fora das quatro linhas, mas,
sobretudo, dentro delas. Homem de caráter, personalidade e
inteligência diferenciadas, desfilava com e sem a bola, dentro e
fora de campo. No tapete verde do histórico gramado do Beira-Rio,
ensinou a muitos como se joga futebol de verdade. No estádio do
Inter, eternizou conquistas, títulos, vitórias, marcas, seus gols
e, agora, sua alma. Sua casa, é o Inter, Fernandão. Sempre foi.
Realmente é muito
difícil acordar e se deparar com uma notícia tão triste, tão
chocante para mim, e para o futebol, certamente. Fernandão, ídolo
colorado, deixa-nos cedo. E quando um jovem, muito mais um ídolo,
morre, morremos um pouco. Cada um de nós morre um pouco. Mas a vida
venceu a morte, está na bíblia. Nos restam as memórias e a fé, o
que temos de mais valioso.
O barco vermelho do
Inter, talvez, nunca será capitaneado com tanta maestria, seja nos
ventos favoráveis, ou não. Seja em águas densas, profundas, ou
rasas. Um verdadeiro capitão é um líder, e suas conquistas, seus
mares alcançados, Fernandão, estarão para sempre em nossos
corações.
Tive o prazer de
presenciar ao vivo, no glorioso Beira-Rio, as duas conquistas da
América. Mas, certamente, a primeira Libertadores, não poderia ser
diferente, se não extremamente marcante. Eu estava lá. Eu vi
Fernandão marcar o primeiro gol. Tinha que ser ele! Saiu correndo
para a arquibancada, com os braços abertos, como se velas fossem de
um barco em mar lindo e aberto. Vi seu choro, suas lágrimas, e as
nossas. Vi a torcida delirar, gritar e acreditar cada vez mais no que
logo seria o triunfo colorado. Vi também Fernandão enxergar Tinga
livre, sozinho, em frente ao gol do grande Rogério Ceni, e o
“ajudei”, com meu coração, com meu desejo e torcida, Fernandão
cruzar e Tinga marcar o segundo e definitivo gol do título. Eu e
meus amigos estávamos lá.
Vi o eterno capitão
iniciar sua vida vencedora no Inter, ao marcar o milésimo gol em
grenais, logicamente contra o fabuloso tricolor também campeão do
mundo, que hoje chora a morte de um ídolo dos gramados. Vi Fernandão
ser o capitão de um time que não teve medo do majestoso e vitorioso
Barcelona. Do futebol do maravilhoso Ronaldinho Gaúcho, do discreto
Xavi, do poderoso Pujol, dentre outros. Vi, sorrindo, Fernandão
erguer a taça, lá em Yokohama, e fazer feliz sua nação vermelha,
orgulhar um estado com um título por muitos cobiçados, e dar alento
a um país que almejava o hexa, e que ficou nas quartas-de-finais da
Copa do Mundo de 2006, diante da poderosa França.
Fernandão veio para
este mundo para ser líder e ídolo. Meu pai gostava dele. Quem não
gostava? Amigos e amigas gremistas gostavam do jogador charmoso e
exemplar pai de família. Hoje choramos, Fernandão, sua partida, mas
certos de que uma braçadeira lhe espera no céu. Serás capitão
eterno de parte dos anjos, dos nossos, de todos que partiram.
Cavalheiro. Um
guerreio. Companheiro e líder. Amigo e atleta. Humano. Um completo
atleta. Num ano de Copa do Mundo, deixa os dias do futebol mais
triste, infelizmente. Tudo muda. Nós mudamos. Mas a fé me faz crer
que, se uns morrem, é para que outros vivam e Deus sabe muito bem o
que faz. A morte, temerosa, é uma passagem, um passo a mais que a
vida dá, para a vida.
Meus pensamentos,
capitão, neste dia, estão contigo e com sua linda família, bem
como junto daqueles que choram tua, tão difícil de aceitar,
partida.
E, sim, ídolos não
morrem. Ídolos vivem e sempre viverão. Você foi cedo, parte cedo.
Não gostaria. Ninguém gostaria. Mas é aí que está um mistério
da vida e, por isso mesmo, devemos valorizá-la cada vez mais, como
Fernandão o fez.
Querido capitão, muito
obrigado pelas alegrias que deu a mim e à nação colorada, que hoje
chora e não compreende sua morte. Que Deus lhe receba com todo seu
amor, e proteja sua família.
Ah, capitão... eu aia
esquecendo:
Ooooooo, vamo vamo,
Inter; vamo vamo, Inter; vamo vamo, Inteeeeeeeeeeer. Oooooo... (seu
grito ecoará para sempre).
Cleuber Roggia –
sócio colorado desde 2004.
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